quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Florence- A ilusão que nos torna ridículos...

 Assisti esse filme, sem grande convicção, mais por ter a Meryl Streep e o Hugh Grant.Achava que seria uma comédia leve, que provavelmente me distrairia enquanto fazia os meus exercícios físicos e nem iria até o fim.



O filme rendeu-me boas gargalhadas, sobretudo pela actuação do pianista Cosmé McMoon (Simon Helberg), que fazia um ar tão surpreendido com  a maneira de cantar de Florence ( Meryl Streep), que para mim, foi delicioso.

Segundo entendi, a cantora existiu na vida real, e era conhecida como Florence Foster Jenkinsse, mas seu nome era Narcissa Florence Foster (coincidência com uma Narcisa brasileira).

Eu geralmente espero de uma comédia, uma boa actuação e doses de risada, mas essa foi sobretudo muito terna. St. Clair Bayfield (Hugh Grant) , que foi o seu marido, muito embora tenha aproveitado da situação financeira que ela lhe proporcionava, tenta durante todo o tempo protegê-la dela mesma, da sua falta de bom-senso, da sua ausência de limites, com muito carinho, com muito amor.

Esse filme fez-me pensar em muitas coisas, em como as pessoas riem mais, admiram muito mais, concedem muito mais àqueles que têm dinheiro. Fica claro no filme, que por mais patético que seja, o dinheiro encanta!

Que nem sempre pode-se ser tudo, ela não conseguia ser cantora, apesar de saber muito de música e ter meios para adquirir conhecimento, não dá, nem todo o mundo pode ser tudo e a ilusão nos coloca em lugares ridículos.

Mas é um filme sobre o amor, amor à música e o amor sincero que sentiam por ela, com a ternura e compaixão. Sem dúvida vale a pena assistir. Dei boas gargalhadas.




quinta-feira, 7 de setembro de 2023

A Exagerada, A Exata, A Morte e A Piada

 

A Exagerada, A Exata, A Morte e A Piada

- Bom dia Ana, tem tido notícias do Sr. Anibal?.  O Sr. Aníbal era um vizinho em comum de Ana e de Célia, e já tinha 94 anos, há algumas semanas tinha sido internado e estava entre a vida e a morte.

- Bom dia Célia, respondeu Ana. Ele vai lá do jeitinho que é normal nessa idade, não dá para esperar muito mais, não é?

- Pois, ele tem tido uma vida bastante longa, completa, o duro é para quem fica, mas a única certeza da vida é a morte, e a família, mesmo sofrendo, vai poder descansar um pouco dessa agonia, né?- respondeu Célia, com aquelas conclusões óbvias e já muito usadas, mas que inevitavelmente utilizamos, vezes sem conta.

- É verdade, a morte faz parte da vida!-disse Ana, utilizando ela também a frase bengala, que não sendo original, arremata o assunto.

- Então bom dia e esperemos que não chova, porque já não aguento mais a porra dessa chuva, que me fode a vida, já não tenho mais criatividade para arrumar lugares para estender a roupa! Agora sim, Célia foi mais fiel a si mesma, uma vez que o palavrão fazia parte do seu vocabulário, assim como os artigos, verbos, substantivos…

-Bom dia pra você também, deixa eu ir que o Arnaldo já deve estar a sair, vou ver se ele precisa de alguma coisa- respondeu Ana, com um risinho conformado, a fingir que já estava acostumada com os impropérios da vizinha, mas que na verdade quase sempre a obrigava forçar um ar de normalidade e evitar arregalar os olhos, exercício quase diário já há três anos, desde que Célia havia mudado para a casa ao lado da sua, trazendo com ela toda uma forma exagerada de viver.

Sim, exagerada, talvez a melhor definição para a personalidade de Célia. Aquele ser que tem muita presença, fala muito alto, gesticula sem parar, ri estridente e de maneira debochada. Tem opinião sobre todos os assuntos, muitas certezas, muitas vezes incoerentes, mas a coerência não é algo que a preocupa, quer é falar, quer estar. Em meio a essas características, os palavrões são meros detalhes no seu discurso. Como um carro alegórico que vem com brilho, cor, música, milhões de detalhes, que observamos e dependendo do nosso humor, gostamos ou odiamos.

- Nunca imaginei que pudesse me dar tão bem com uma vizinha assim…- pensou Ana  enquanto abaixava para pegar a “Folha de São Paulo”, que o jornaleiro deixava no chão da sua garagem, para levar ao seu querido Arnaldo, que estaria a terminar o café-da-manhã, quase a ponto de ir para o consultório.

Ana era toda uma senhora. Fez o magistério, como fizeram todas as suas amigas, ingressou na rede de ensino público e leccionou para a quarta classe durante quase toda a sua carreira. Foi o tipo da professora que marcou toda uma geração. Dedicada, delicada, perfumada, arrumada. Nem pouco, nem muito, sempre foi exata.

Exata, sim essa é a melhor palavra para explicar a professora Ana, bem como a esposa Ana, amiga, companheira, que nunca (pelo menos em público) contrariara o marido, que o olha com admiração, que valida todas as suas opiniões, que o apoia em tudo, sem ter um ar de subordinada, mas sim uma eterna namorada apaixonada.  

A exactidão apenas abandonou Ana no quesito mãe, aliás não abandonou, transbordou tornando-se grande, grandiosa, extrema , seria mais justo dizer. Extremamente cuidadosa, pacificadora, presente, carinhosa. Extrema e impecável com os seus frutos, três adultos já formados. Dois jovens médicos e Anita, uma dentista que apesar de ter começado há dois anos a dar consultas já tinha a agenda cheia, uma vez que tinha aprendido com a mãe a ser dedicada, delicada, perfumada e arrumada.

Naquele mesmo dia, ao fim da tarde, Célia estaciona o seu carro e repara numa agitação bastante fora da normalidade na casa da Ana, mas nem pensou sobre o assunto. Enquanto tirava as compras do carro, a sua empregada, Sueli, passou por ela com os olhos marejados, mas com uma grande pressa para apanhar o ônibus que já dobrava a esquina, e disse:

- Já viu D. Célia, o Sr. Arnaldo morreu, que coisa horrível!- mas por muito triste que se sentisse, o ônibus não iria esperar a tristeza da Sueli, nem a creche que cuidava do seu filho, e é assim, a vida não para (narrador também se apoia em frase bengala), lá foi a Sueli chorosa.

Célia fez um ar triste, encolheu os ombros, achou estranho o estado emocional da empregada, mas pensou para si mesma:

- Pobre adora um drama, afinal o Sr. Anibal, já estava velho para caralho, queria o quê? Que ficasse para semente?

Um leitor atento já deve ter entendido a confusão na cabeça de Célia que continuou a pensar:

- Que merda esse velho morrer bem hoje, que estou que é só o farelo… Vou ter que ir para porra do velório! Bem hoje que eu queria era deitar na cama e assistir a minha novela.

Um pouco mais tarde o marido de Célia entrou em casa, com um ar abatido, e perguntou se ela já sabia do que havia acontecido, enquanto ela estava no banho. Ela respondeu que sim e completou com a frase:

- Foda-se, vamos ter que lá dar um pulo, justo hoje que estou tão cansada.

O marido já estava habituado com as reacções malucas de Célia, e embora tenha estranhado a frieza da mulher, resolveu nem discutir.

Rumaram para o velório da cidade, vale a pena salientar, uma cidade pequena, onde quase todos se conhecem.

Célia, contrariada, ia reclamando no carro, sobre o “programinha” inesperado que havia surgido e fazendo comentários aleatórios do estilo:

- Vá por aquela rua, que é mais fácil estacionar por ali.

O marido sentia-se cansado e estava triste pensando:

- Tão típico da Célia, ao invés de mostrar tristeza mostra zanga, deve ser a maneira dela de digerir uma notícia tão cruel como a morte repentina do Arnaldo, imagine, ter um ataque cardíaco fulminante, no seu consultório, parece irónico. Justo agora que os filhos estavam crescidos, formados e as preocupações normais da vida iam diminuindo, que injustiça!

 A morte de Arnaldo fazia com que ele pensasse na própria vida, afinal tinham quase a mesma idade. O marido reflectia se estava vivendo plenamente, se estaria pronto para deixar a vida, coisas que pensamos sempre quando alguém da nossa idade morre. Mas efectivamente, no outro dia, vamos trabalhar e ignoramos toda a filosofia e os ensinamentos, as contas não pagam-se sozinhas, e a vida continua.

Chegaram no Velório Municipal, Célia foi andando na frente, tinha pouca paciência para “a moleza” do marido. Sempre achou que ele pensava muito e agia pouco, sempre o achou sentimental demais, muito dramático. Queria despachar o assunto, cumprimentar, dar as condolências e encerrar o assunto.

Estranhou tanta gente no funeral do pobre Sr. Aníbal, pensou consigo mesma:

- Essa gente não tem nenhuma coisa melhor para fazer, todos aqui? Caralho, parece que não estavam a espera que o velho morresse!

Avistou os filhos de Ana, claramente muito abatidos, cumprimentando todas as pessoas, muito envolvidos com o acontecimento, estranhou.

Avistou Ana, e sem reflectir, piscou-lhe o olho, abraçou-a com carinho, e comentou:

- Ainda falamos dele hoje de manhã, não é Ana?

Ana, também habituada com as reacções de Célia, não estranhou. Aceitou o abraço e ouviu a frase da vizinha:

- Nossa Ana, nunca imaginei que os seus filhos fossem tão apegados ao Sr. Aníbal! Estão tão chorosos, coitadinhos.

Nesse momento, apesar de toda a confusão, Ana, a exacta, conseguiu não sei como, compreender exactamente o que estava a acontecer, Célia estava a confundir Aníbal com Arnaldo, e por muito que possa parecer absurdo, as vezes a nossa mente prega essas peças. Estamos tão preparados para um acontecimento, que não conseguimos enxergar outro.

 Célia, com a calma que lhe era apanágio, segurou na mão de Ana, e disse com calma:

- Célia, acho que você está a fazer uma grande confusão, quem morreu foi o meu Arnaldo, teve um ataque cardíaco fulminante, tadinho, foi sem sofrer, mas sem tempo para um adeus, o Sr. Aníbal continua vivo, coisas da vida… (ou da morte). E abraçou a amiga, com toda a compaixão…

Imagino que a informação tenha sido uma pequena explosão na consciência de Célia, primeiro entender o engano, depois realizar que o amigo havia morrido inesperadamente, finalmente ter em conta todo o seu comportamento, Bum, Bum, Bum, confusão, tristeza, vergonha!

Olhou para o caixão e lá viu o amigo Arnaldo, imóvel, com os olhos fechados (óbvio).

Saiu da sua boca um som gutural:

- Puta que o pariu! O Arnaldo morreu! Como é que foi isso minha gente? Como isso pode acontecer? Braços ao ar, olhar tresloucado, andando as voltas do caixão.

O marido de Célia ficou pasmado, diferente de Ana, demorou para entender o que havia acontecido, tentou tranquilizar a esposa, que causava um embaraço gigante em meio aos que velavam o Sr.Arnaldo. Tentou abraçá-la e pedir baixinho que parasse com o escândalo, mas ela desembaraçava-se dos braços do marido e gritava ainda mais.

Ana, sem forças para conter a vizinha e sabendo que qualquer gesto seu iria deixar Célia ainda mais reactiva, ficou a assistir ao espectáculo calmamente, e, naquele momento até teve vontade de rir da situação. Rapidamente os seus filhos vieram perguntar o que estava acontecendo, Ana explicou. Os filhos, que tinha herdado a calma e generosidade da mãe, simplesmente se entreolharam com alguma vontade de rir, e ficaram lado a lado, esperando também pacificamente, a histeria de Célia acabar, resignados.

Desnecessário dizer que muitos que assistiram a cena, sem conseguir perceber o ocorrido, pensaram que afinal a Célia era amante de Arnaldo, e sendo aquele “carro alegórico” não havia poupado nada e nem ninguém da sua dor, nem o próprio marido, que como sabemos, é o último a saber. Nesse caso, foi mesmo.

Até hoje essa história é contada na cidade, desse velório tão triste que teve um grande momento de piada e, desde então cada vez que alguém é velado, reconta-se a história, misturando as lágrimas de tristeza com algumas de riso, porque a vida continua, com todas as suas cores.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Whatsapp e o Romeu

Desde que vivo em Portugal, tentava ir ano sim, ano não para o Brasil.

A última vez que tinha ido foi em 2018, na altura pensava que voltaria em 2020 e veio a pandemia, depois as passagens subiram de preço de maneira incomportável, e quando nos demos conta, já lá tinha passado 5 anos.

Uma loucura, não é? Cinco anos é o tempo de um curso universitário, é como se a vida da gente mudasse tanto, cinco anos. Se eu fosse jovem, isso teria sido considerado uma eternidade, mas com a idade, isso do tempo é relativo, pois vamos ficando mais velhos, somando anos, e um, dois anos é pouco em relação a tudo aquilo que a gente já viveu.

Perguntam como eu consegui ficar longe e eu acho que tenho a resposta: whatsapp. Caramba, desde que temos essa ferramenta o mundo ficou pertinho.Se eu quiser nesse momento, passo o dedo na tela do meu telemóvel e já consigo ver a minha mãe, incrível.


Essa evolução tecnológica nos colocou mais perto em muitos sentidos, e há aqueles que consideram que as tecnologias afastaram as pessoas, mas nesse caso, aproximou e ajudou muito.

Nesses cinco anos, a maior novidade, o acontecimento mais marcante foi o nascimento do Romeu, o pequenino da família, possivelmente o último neto, o último sobrinho de 1º grau.

Mas, lá está, com o whatsapp e o grupo da família, eu recebi com emoção a notícia da gravidez, na hora em que a minha cunhada foi para o hospital, todos nos comunicamos no grupo, o momento foi acompanhado " a par e passo" , bem como o seu crescimento.

Quando cheguei no Brasil, depois de 5 anos, não estranhei ninguém, fomos nos acompanhando no envelhecimento, nas mudanças físicas, e o Romeu, parecia que eu tinha estado com ele sempre. A imagem dele sempre ficou e cresceu na minha memória e no meu coração. Eu o sabia decor, mas ele me surpreendeu em alguns detalhes:

- ele cheira tão gostoso, a criança mais cheirosa do planeta, segundo ele, é o sabonete Phebo, mas desconfio, acho que é dele mesmo;

- não é porque é meu, mas ele é super inteligente, vivo, pesca tudo em um segundo, esperto até demais para o meu gosto;

- ele é um pestinha, mesmo doidinho da cabeça, quase perigoso de tão malandro.

Já sinto saudades de todos, dele mais ainda, mas... faz parte, a minha vida para já é aqui, e tento não aprofundar nisso, pois não tem solução. Me consolo com o whatsapp e com a certeza absoluta que o amor que a gente sente independe da geografia, ele sempre vai nos conectar!

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Pão de Azeitonas com vídeo

 




 

 

Ingredientes:

4 xícaras de farinha de trigo;
1 xícara de água morna;
1 colher de sopa de açúcar;
10g de fermento biollógico em pó;
1 xícara de azeite;
150 g de azeitona preta picada;
150 g de azeitona verde;
2 colheres sopa de orégano;
1 gema para pincelar

Modo de fazer:

 Coloque numa tigela o fermento com a água morna até dissolver
completamente. Junte o açúcar, o sal e uma xícara de trigo, misture bem.


Deixe crescer por meia hora , coberto com um pano.


Depois, adicione o azeite em fio, mexendo sempre com uma colher.
Adicione o restante da farinha até obter uma massa firme que não pegue
na mão.

Adicione as azeitonas e os oréganos e faça as bolinhas do tamanho que quiser.

Coloque em uma assadeira untada, cubra com um pano e deixe crescer por
mais meia hora. Em seguida pincele com a gema ligeiramente batida e
leve ao forno médio até dourar, mais ou menos uma meia hora.

terça-feira, 23 de maio de 2023

Livros 2022 Breve Vida das Flores- Shantaran- Eliete- Terrinhas- O Acontecimento- Terra Americana

 Quero organizar aqui, no meu diário aberto ao público, os livros que vou lendo...

Como comecei a frequentar um Clube do Livro, seja pela convivência, pelo contágio, pela competiçãozinha, tenho lido muito mais do que em qualquer outra fase da minha vida, mas tenho esquecido de postar aqui, assim vou fazer um resumo daqueles que li o ano passado, depois vou tentar fazer de mês a mês, tá?

Lá vai!


A Breve Vida das Flores, Valérie Perrin

Quase um poema dentro de uma história bastante triste, mas ao mesmo tempo doce.

Considero um livro que vale muito a pena ler.

Um dos melhores de 2022.







Shantaran, Gregory David Roberts.

Quase uma aventura na Índia, gigante, vale exatamente o contrário daquilo que pesa.

Mistura de ficção com história real, achei super chato, mas houve muita e boa gente que adorou...

Eliete, Dulce Maria Cardoso

Escrita maravilhosa, começa-se, não dá vontade de parar. História da vida de uma mulher comum, na casa dos 40, refletindo sobre a vida, vivendo aventuras.

Não entendi o fim, dizem que é suposto haver uma sequência... Mas eu me perdi! 

Vale a pena? Vale sim senhor(a)!

Terrinhas, Catarina Gomes

Aqui em Lisboa, muita gente tem um lugar "no campo", que chamam a "terrinha", muita sorte tem quem tenha um lugar para fugir...

Esse livro conta a história de uma jovem senhora, e a descoberta dos segredos da terrinha dos seus pais.

Super bem escrito, o começo me enfeitiçou, o fim, gostei.


 

O Acontecimento, Annie Ernaux

Ganhou o nobel, fui xeretar.

Adorei, vai no ponto, não dá vontade de parar, autobiográfico, conta de um acontecimento na sua vida, na década de 1960, onde "a gente de bem" liderava a forma de viver...


Terra Americana, Jeanine Cummins

Conta a história da viagem ilegal de mexicanos para os Estados Unidos.

Com grande conhecimento dessa realidade a autora escreve com maestria uma história ficcionada.

Angustiante e muito bom.



sexta-feira, 17 de março de 2023

Voltinhas que a vida dá!

 Há uns anos abriu uma barbearia cá perto de casa, o dono, um brasileiro cheio de simpatia e ideias inovadoras conquistou logo o meu respeito e comecei a levar o Gui para lá cortar os cabelos.

Nas duas primeiras vezes ele cortou com o brasileiro, depois habituou-se a um outro barbeiro deste salão, o João.

Sempre gostei muito do João e o Gui também. E a rotina faz com que a gente não se dê muito conta, mas passaram anos, o Gui era pequenino, hoje já vai e volta sozinho. Isso do tempo...

Eu já sabia que o pai do João também é barbeiro, e que até tinha o desejo que o filho herdasse o seu salão, em outra freguesia, mas o João gostava muito de trabalhar onde trabalha, já tinha adquirido uma grande clientela, gostava de cá estar. Ele contou-me que já se sentia seguro para tentar abrir o seu próprio negócio nessa área, não por estar insatisfeito com o patrão brasileiro, mas por ser um caminho natural, uma maneira de crescer na carreira. Mas também disse que seria incapaz de fazer concorrência a quem lhe tinha dado uma oportunidade, assim, deixou-se estar.

Fui lá há poucos dias e o João contou-me a história, que me deu um gosto incrível ouvir: O antigo dono decidiu buscar novas paisagens, e o João que era um funcionário impecável, teve a oportunidade de ficar com o negócio, ele que estava a sentir-se "atado", sem saber muito bem que rumo tomar, de repente, nada fazia prever, teve a oportunidade perfeita, ficar com aquilo que sonhou.

Gui com 5 anos!

Sorte? Um bocadinho deve ser, mas sobretudo, acredito que foi uma recompensa, por ter sido fiel, ter conquistado uma boa clientela, ter sido responsável. Podemos dizer que ele conquistou de alguma forma aquele espaço. Ele estava radiante, satisfeito, a falar da esposa, do emprego, de um provável ida à Nova York, da compra de um apartamento, enfim, aquela sensação que eu denomino como "fim de novela", onde tudo se encaixa, e os bons recebem uma recompensa.

Isso me faz questionar muito a minha crença, que sempre foi acreditar que algo nos está reservado, é ir levando a vida com retidão, com justiça, com força e as coisas boas vão chegando e acontecendo.

Será? Não sei, mas histórias assim, onde tudo encaixa renova a minha fé!

É bom ver coisas boas acontecendo com pessoas boas!





segunda-feira, 6 de março de 2023

Clube do livro- Apneia

Livrólicos anónimos", esse foi o crachá que ganhamos ontem, da Editora Leya, na reunião do Clube do Livro da @sonia_morais_santos , onde tivemos o privilégio de ter a presença da autora do livro @taniaganho

Foi numa linda livraria que eu não conhecia (shame on me),a Bulchholz.
Foi uma noite mesmo em grande. Uma das participantes telefonou-me e combinou de passar em casa para irmos juntas, fiquei tão contente com o carinho dela, depois a reunião em si, para a discussão do livro, extremamente rica e marcante.
 
Já há muito anos aprendi a tentar, fazer um esforço para não julgar. Não porque eu seja boazinha, mas porque no decorrer da minha vida, quase tudo que eu julguei, aconteceu comigo, como uma resposta à pergunta que eu fazia ao universo: Mas como ela aceita isso? Mas como fulana de tal pode ser enganada dessa forma? Mas, como Cicrana pode acreditar nisso? Invariavelmente o universo tratava de me devolver a questão de forma prática. Meio que aprendi, há razão e circunstância para tanta coisa...
 
O livro debatido foi o "Apneia", um livro extremamente bem escrito, envolvente e muitas vezes sufocante, que para algumas das leitoras a história se assemelhava com a própria experiência de vida, e para outras era mesmo uma história. Triste história, mas sinto que é fundamental ter consciência dela, o livro foi um grande guia, a conversa de ontem ajudou a compreender mais um pouco essa realidade.

Saí de lá com a sensação de levar qualquer comigo. Não quero estar aqui a estragar a surpresa da leitura, portanto não vou escrever sobre a história, mas trata de violência doméstica.
Depois fomos num grande grupo "tapear" no "Up to Tapas"  e foi super agradável, além de tapear, deu para papear muito e foi um grande prazer.

Adoro fazer novas "amigas", cada pessoa é um mundo, e não sei se é a atmosfera das histórias dos livros, se é um monte de mulheres juntas, não sei, mas surge muita cumplicidade, um "relax" gostoso, como se todas estivéssemos num ambiente seguro, confortável.
Foi muito, muito bom. Voltei para casa de coração e estômago cheios!